A Secção de Educação Comparada da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação (SPCE-SEC), com o apoio do Centro de Investigação em Educação da Universidade da Madeira e da Secretaria Regional de Educação, através da Direção Regional de Educação, da Região Autónoma da Madeira organizou a II Conferência Internacional de Educação Comparada com o tema “O Professor do Século XXI em Perspetiva Comparada: Transformações e Desafios para a construção de sociedades sustentáveis”, na cidade do Funchal (Ilha da Madeira), nos dias 29, 30 e 31 de janeiro de 2018. A II Conferência Internacional de Educação Comparada teve como objetivo principal questionar e refletir à luz de cenários diversos e comparados a assunção do professor enquanto profissional essencial à prática pedagógica do século XXI, independentemente do lugar que possa ocupar na sala de aula ou no espaço pedagógico em que a aprendizagem aconteça. A debate surgiram as questões em torno da cidadania cosmopolita, os novos atores sociais e a reconstrução das práticas pedagógicas e profissionais; as histórias de vida e o ser professor no regime colonial e pós-colonial, bem como as políticas educativas glocais, os estudos curriculares e o sindicalismo docente. Compreende-se que a valorização da profissão Professor é uma atitude social e política incontornável.
Organismos internacionais como, por exemplo, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) ou a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) têm manifestado como prioridade e estratégia para a valorização dos objetivos de desenvolvimento sustentável o empoderamento dos professores e da sua capacitação por via de uma formação de qualidade. O ano de 2018 ficou ainda marcado pelo terceiro inquérito da OCDE sobre ensino e aprendizagem (TALIS, Teaching and Learning International Survey), “refletindo principalmente, sobre os ambientes de aprendizagem nas escolas e as condições de trabalho dos docentes.” “Ser professor” em pleno século XXI, num mundo cujas fronteiras estão (aparentemente) esbatidas e onde os processos de ensinar e de aprender já não se resumem à cartilha ou à didática magna é um desafio crucial ao desenvolvimento de sociedades sustentáveis.
Outro cenário que se desvela deste “novo” professor de uma modernidade líquida (Zygmunt Bauman) são as suas representações sociais, profissionais e pessoais que se articulam na construção de boas práticas pedagógicas. Foi neste mosaico que se tornou fundamental compreender, na lógica de uma perspetiva comparada, o estado da arte da vida dos professores, as suas histórias e os cenários que se desvelam na assunção de uma profissionalidade docente necessárias à educação e à escola do século XXI.
Recordo algumas das palavras que pude partilhar com um auditório cheio aquando a abertura da Conferência: “Para já, eu gostaria de guardar esta possibilidade de análise: a Educação é uma Dimensão Social que nos implica a todos e há em nós uma curiosidade que nos faz mover por entre as suas diversas temáticas. E nos próximos 3 dias refletiremos sobre que professor queremos para este século XXI. Estou certo que este professor do século XXI é uma pessoa capaz de, na plasticidade que se lhe exige, compreender e aceitar que “ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”, assumindo que “não é na resignação, mas na rebeldia em face das injustiças que nos afirmaremos” como convictamente Paulo Freire (“Pedagogia da Autonomia”) afirmou. Até porque ensinar e aprender é um ato de coragem e é a partir dessa coragem que a Educação do século XXI se deverá reconstruir.”
Livro disponível em: https://www.researchgate.net/publication/336232332
Nuno Fraga
Universidade da Madeira